Fabio de Sa e Silva

Operação contra PCC derruba três mitos 

Investigação demonstra que Lava Jato foi sobretudo jogada de marketing; que o combate ao crime não é monopólio da direita; e que a corrupção também corre solta na Faria Lima.

Polícia federal e Receita Federal fizeram operação contra o crime organizado em prédios comerciais da Avenida Faria Lima, em São Paulo, no dia 28 de agosto (Foto: Leandro Chemalle/Thenews2/Folhapress)

Enquanto o país se concentrava no iminente julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por crimes contra o Estado democrático de direito, a Polícia Federal e a Receita Federal, em conjunto com outras agências, deflagraram na última quinta-feira, 28, a operação Carbono Oculto. 

A investigação desarticulou um esquema bilionário ligado ao PCC, com 14 prisões, 350 mandados de busca e apreensão e 1.400 agentes mobilizados em oito estados.

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar

O mecanismo central consistia na importação de combustíveis com sonegação de impostos e adulteração do produto. Os valores ilícitos eram lavados por meio de uma rede que ia de postos e padarias a bancos e fintechs. Parte do dinheiro era aplicada em fundos do mercado financeiro.

Durante anos, repetiu-se que nenhuma operação chegara — ou chegaria — tão longe quanto a Lava Jato. A Carbono Oculto mostra que não é verdade. Em valores, já nasce maior: mapeia desvios estimados em R$ 52 bilhões, enquanto a Lava Jato teria “recuperado” R$ 22 bilhões. 

Polícia federal e Receita Federal fizeram operação contra o crime organizado em prédios comerciais da Avenida Faria Lima, em São Paulo, no dia 28 de agosto (Foto: Leandro Chemalle/Thenews2/Folhapress)
Polícia federal e Receita Federal fizeram operação contra o crime organizado em prédios comerciais da Avenida Faria Lima, em São Paulo, no dia 28 de agosto (Foto: Leandro Chemalle/Thenews2/Folhapress)

Mais importante, porém, é o contraste de método: não houve prisões televisionadas nem heróis de toga ou de gabinete. Esse é o primeiro mito derrubado — o de um perverso “excepcionalismo” da Lava Jato, que ajudou a glorificar a operação na esfera pública e, por isso mesmo, a legitimar práticas fora ou acima da lei.

O segundo mito é o de que o combate ao crime seja monopólio da direita. A Carbono Oculto ocorreu sob um governo de centro-esquerda e demonstra que a efetividade dessa agenda depende não de ideologias, mas sim da força e do profissionalismo das instituições. 

Ideologias, ao contrário, tendem a desviar as instituições de seus propósitos. Quem tiver dúvida pode consultar, nos inquéritos do golpe, como a Polícia Rodoviária Federal, PRF, foi instrumentalizada no governo Bolsonaro.

LEIA TAMBÉM:

O terceiro mito é o de que a corrupção se limita ao setor público. Quarenta e dois alvos da operação tinham endereço na Faria Lima. O esquema não teria existido sem bancos e fintechs. É significativo que setores que pregam um Estado menor figurem agora como parte de uma engrenagem que o saqueava de forma sistemática.

A Carbono Oculto, portanto, não apenas revelou um esquema criminoso de grande envergadura. Mostrou também que o combate à corrupção não depende de salvadores da pátria nem de espetáculos midiáticos, mas de instituições sólidas, capazes de atuar com técnica, independência e responsabilidade.

A VIRADA COMEÇA AGORA!

A virada começa agora!
Todo fim de ano traz metas pessoais. Mas 2026 exige algo maior: metas políticas — e ação imediata.
Qual virada você quer para o Brasil?
A que entrega ainda mais poder à direita para sabotar o povo — ou a virada em que eles ficam longe do Congresso, do Senado e da Presidência?
Eles já estão se movendo: o centrão distribui emendas para comprar apoio, as igrejas fecham pactos estratégicos, as big techs moldam os algoritmos para favorecer seus aliados, e PL, Republicanos e União Brasil preparam o novo candidato queridinho das elites.
E tudo isso fica fora dos holofotes da grande mídia, que faz propaganda fantasiada de jornalismo — sempre servindo a quem tem dinheiro e poder.
Aqui não. No Intercept Brasil, suas metas de ano novo para o país também são as nossas. Estamos na linha de frente para expor esses projetos de poder e impedir que 2026 seja o ano da extrema direita.
Mas essa virada depende da mobilização de todos.
Para continuar investigando — e desmontando — cada etapa dessa articulação silenciosa, precisamos da sua doação.
E ajude a conquistar as metas que o Brasil precisa.
Fortalecer o jornalismo independente que não deve nada a políticos, igrejas ou empresas é a única forma de virarmos o jogo.

Doe Agora

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar